sábado, 15 de maio de 2010

E por falar em ciência...no rádio!

Faz pouco tempo, ouvi na Rádio MEC um debate sobre rádio, do qual participou a radialista Taís Ladeira, da Empresa Brasil de Comunicação, responsável pelas rádios e tvs públicas brasileiras. Ela sabe muito, é uma radioapaixonada. Tenho orgulho de tê-la tido na equipe do projeto E por falar em ciência, que eu mencionei em artigo anterior, Ciência, rádio e TV. Ouvindo-a falar com a desenvoltura que lhe é peculiar, com clareza e objetividade sobre o tema que ela domina como poucos, senti vontade de falar novamente daquele projeto, resultado de um convênio assinado entre a Universidade Federal Fluminense e a Rádio MEC, que colocava o programa no ar. A produção, como eu já informei no artigo mencionado, era de alunos das turmas de Jornalismo Científico e de Radiojornalismo, matérias que eu lecionei, durante vários anos, no Departamento de Comunicação do IACS, da UFF .
No início, alguns alunos ficaram preocupados com uma nova realidade: a de produzir “pra valer”, um programa com informações científicas. Escrever, portanto, sobre ciência e tecnologia assustava um pouco. Mas, elaborar uma matéria científica não é muito diferente da produção de uma matéria política ou econômica. A jornalista Lacy Barca, responsável pela gestão do conhecimento da TV Brasil, lembrou certa vez que, do ponto de vista ético, exige-se do jornalista os mesmos cuidados de correção, fidelidade, imparcialidade. Pode-se escrever, radiodifundir, televisionar ou filmar qualquer informação científica em sua forma mais comum, com a mesma técnica usada para todas as notícias.
Com o passar do tempo, os alunos perceberam que além de informar sobre o que acontece no mundo da ciência e da tecnologia, o programa estava contribuindo para despertar vocações, estimulando a curiosidade de jovens, levando a eles algum conhecimento que pudesse contribuir para sua formação. Os alunos também se deram conta que, com seu trabalho, estavam ajudando a desmistificar a ciência e a figura do cientista, que muitas vezes tem sido sacralizada. Nesse aspecto, não encontraram muitas dificuldades, pois a imprensa escrita, havia anos, estava destinando espaço para a divulgação da ciência e tecnologia. Assim, muitos cientistas, antes um tanto avessos à divulgação de suas pesquisas, e desconfiados do trabalho profissional da imprensa, hoje veem nos jornalistas aliados na prestação de contas à sociedade.
A locução, a edição e a sonorização das matérias eram feitas no estúdio da Rádio MEC. O maior desafio foi elaborar um formato que garantisse, ao mesmo tempo, a comunicabilidade do programa, a clareza e a precisão das informações e o interesse e mobilização do público ouvinte. Como se tratava de um projeto acadêmico, veiculado em emissora oficial, sem qualquer compromisso comercial, foi possível experimentar novos formatos. Mas, sempre a partir de critérios previamente discutidos, muitas vezes com os próprios cientistas. Um exemplo foi o programa sobre Estudos do caos, do qual participou o professor Ildeu de Castro Moreira, professor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e militante em defesa da popularização da ciência e da divulgação científica. Para viabilizarmos o programa, fizemos três reuniões com o professor, discutimos o roteiro, a abordagem e a própria trilha sonora.
Palavra e recursos sonoros são elementos que se complementam no rádio, e é neles que reside a força do veículo. Por não oferecer detalhes minuciosos, como a televisão, o rádio estimula o imaginário do ouvinte, levando-o a criar imagens por meio das descrições e dos relatos que ouve. Isso vale também para programas que divulgam ciência, independentemente de seu formato. No caso da série E por falar em ciência, um exemplo é o próprio programa Estudos do caos, em que era preciso levar o ouvinte a relacionar o caos e sistemas caóticos a algo que lhe fosse familiar. Assim, o professor Ildeu foi buscar na natureza uma explicação para comportamentos caóticos.
(...) talvez o exemplo mais claro do sistema caótico seja um rio turbulento. Se a gente joga, por exemplo, duas folhinhas num certo lugar desse rio, elas se separam de maneira muito rápida no tempo. Uma delas pode ficar presa no redemoinho, e a outra pode descer para o mar.Então esse é um exemplo de um sistema que tem esse tipo de comportamento. Um outro exemplo é a previsão do tempo: a atmosfera se comporta de maneira muito complicda. Por isso, é muito difícil prever se vai chover ou fazer sol no fim de semana. Qualquer pequena variação pode mudar o tempo significativamente depois de uma semana. Então, esses são dois exemplos de comportamento caótico na natureza.
Não contando com a imagem de um rio específico, cada ouvinte “viu”, ao ouvir a explicação do professor, um rio que lhe era familiar, e cada um, certamente, desenhou em sua mente um sol e uma chuva particulares.
Também ao explicar o que vem a ser o controle do caos, Ildeu levou ao ouvinte uma imagem por meio de sua descrição.
(...) seria, mais ou menos, como você equilibrar uma vara na ponta do dedo. Quer dizer, é muito difícil, porque é um sistema instável.Se você fica com o dedo parado, a vara cai, mas, se você mexe com o dedo adequadamente, você pode estabilizar a vara e fazer com que ela fique se comportando da maneira como você quer. Então, existe essa possibilidade interessante de se fazer o controle de sistemas caóticos.
Um exemplo bem concreto: o coração. O coração é um sistema que até pouco tempo, se imaginava que saudável era aquele que funcionava sempre com o mesmo ritmo, invariavelmente. Agora, nos últimos anos, as pessoas têm descoberto, a partir de estudo dessa ideia do caos, que um coração saudável tem também capacidade adaptativa, quer dize,r ele muda de ritmo de acordo com as emoções, com o clima, com a temperatura.Então, o coração saudável tem de ter a capacidade adaptativa. Ele tem de reagir a pequenas variações, a pequenos estímulos. E os sistemas caóticos são exatamente isso: são sistemas que dão uma grande resposta sob ação de um pequeno estímulo. Daí a ideia de biólogos e médicos aproveitarem isso no estudo do coração, por exemplo.
A limitação tecnológica exige que a mensagem radiofônica receba um tratamento que a torne inteligível. Para alcançar esse objetivo é preciso, pois, que se estabeleça uma relação de cumplicidade entre entrevistador e entrevistado. E isso vale também, ou, sobretudo, para programas de divulgação de ciência.
Não foi possível avaliar a audiência de nosso programa. A razão é simples: E por falar em ciência era transmitido pela Rádio MEC, mas não tinha uma produção na emissora. Isso inviabilizava um contato mais íntimo entre o ouvinte e os integrantes da equipe. Vez por outra tínhamos notícia de que alguém havia telefonado querendo falar com os responsáveis do programa. Além disso, o programa era gravado, o que impossibilitava a interatividade que propicia exatamente a participação dos ouvintes.
Quando, eventualmente, levávamos ao ar um tema sobre ciência e tecnologia na série Diálogos, que era ao vivo, mediado pelo professor Luiz Alberto Sanz e por mim, podíamos medir o interesse dos ouvintes pelos assuntos tratados em função das perguntas e dos comentários que chegavam pelo telefone. Isso mostra a importância da interatividade no rádio. É nesse momento que entrevistados e ouvintes estabelecem um diálogo. O rádio ao vivo deve ser o objetivo de todos aqueles que pretendem se dedicar à comunicação radiofônica, aproximando o ouvinte de seus interlocutores, transformando-os de objetos da comunicação em sujeitos.
O programa E por falar em ciência foi uma experiência muito importante. Primeiro, porque a universidade é o lugar da reflexão, da análise, da experimentação, da pesquisa. É nela que se forma a massa crítica, e não apenas técnicos especializados em redação jornalística, em tecnologias e equipamentos, ou meros anotadores de declarações e opiniões alheias. Em segundo lugar, porque, participando do projeto, muitos alunos se deram conta de que jornalismo científico não é uma atividade burocrática. Verificaram que, apesar do mercado de trabalho fechado nas editorias de ciência dos grandes jornais, aqueles que experimentaram o jornalismo científico na universidade podem perfeitamente atuar em assessorias de instituições científicas e de pesquisa, funcionando como repórteres, editores, redatores.

Perdendo a sintonia
E por falar em ciência começou com 10 minutos de duração. Pouco tempo depois, a direção da Rádio MEC propôs que fosse ampliado para 15 minutos. Par os alunos, tratava-se de um compromisso ao qual não podiam faltar. Mesmo nas férias, os bolsistas produziam um programa semanal. Falávamos com orgulho do nosso projeto
Mas, como fim das bolsas, começaram os problemas. Não contávamos mais com equipe fixa. Como não havia remuneração, os alunos não encarvam o projeto com seriedade. Talvez achassem que estavam participando de uma atividade do tipo "brincando de fazer rádio". Normalmente, a responsabilidademaior era assumida pelo monitor da cadeira de radiojornalismo, e foi graças aos monitores que conseguimos "levar o barco adiante". Mas, durante o período de férias, os alunos não se mostraram interessados em produzir programas. Recorremos, portanto, a reprises.
Chamo a atenção para esse fato poir ele ilustra como a produtividade está intimamente ligada à remuneração. Ou seja, a bolsa confere caráter profissional ao projeto. Responsablidade, compromisso com os ouvintes e a emissora que nos abriu espaço foram secundarizados. O projeto passou a ser visto pelos alunos como outra matéria qualquer, em que a nota por um trabalho de casa é suficiente. Eis aí uma questão sobre a qual professores e alunos devem refletir.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Lewi, um repórter fotográfico artista















O autor destas fotos é Lewi Moraes. Ele fez 60 anos de idade. Há 30 eu o conheço. Na época, ele era fotógrafo da Folha de São Paulo e eu, repórter da então TV Educativa do Rio de Janeiro. Ficamos amigos, daqueles que não se veem muito, mas que são leais na alegria e na tristeza..., o que, aliás, é muito mais verdadeiro nas grandes amizades do que em muitas promessas feitas em frente a um altar.
Em sua larga trajetória, Lewi fotografou políticos, jogadores de futebol, reis e rainhas, pilotos da Fórmula 1, pessoas simples, sem tetos, cientistas, paisagens, flores e animais silvestres.
Um dia, deixou o jornalismo diário e resolveu ser freelancer. Fez ensaios fotográficos, fotos publicitárias e fotos para divulgar a ciência, mas acabou optando por fotografar a natureza.
Uma vez fiz o seu perfil do qual reproduzo, aqui um trecho, porque é assim que eu vejo, até hoje, o meu amigo.
“Se fotografia é arte, Lewi Moraes é artista. Se fotografia é informação, Lewi é jornalista. Se a fotografia é arte na informação, ou informação com arte, então Lewi é um jornalista-artista.
A explicação é simples: Lewi domina, como poucos, a arte de parar o tempo e a técnica de reter, para sempre, a imagem de um instante.
É isso que ele tem feito nos últimos 30 anos, sempre com muita dedicação, prazer e sensibilidade. Assim é nas fotos jornalísticas, publicitárias ou nos ensaios fotográficos. Filho de seu tempo, Lewi sempre foi, e continua sendo, receptivo às inovações tecnológicas da sua área. Por isso, manuseia com a mesma desenvoltura a velha Nikon F2, que guarda como lembrança, e sua atual câmera eletrônica. Não rejeita o mais moderno equipamento digital, que dispensa o click que tantas vezes ouvi quando trabalhávamos juntos, nas ruas do Rio de Janeiro, registrando fatos dos mais corriqueiros aos mais importantes.
Jamais vou esquecer a foto da multidão que tomou conta do centro do Rio, no comício histórico pelas Diretas-Já, em 1984. Do alto, aquela gente reunida clamando por liberdade formava uma cruz, na esquina da Av. Presidente Vargas com a Av. Rio Branco. A foto de Lewi tornou a cruz visível, revelando todo o peso simbólico daquela manifestação. Foi primeira página da Folha de São Paulo, do dia 10 de abril de 1984.”
Faço agora um convite: visitem o site do Lewi. Lá estão os seus ensaios fotográficos.
http://www.lewimoraes.com/

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A necessidade da boa comunicação

O relato a seguir é de uma época em que ainda não havia celular e adquirir telefone exigia paciência – o tempo de espera por uma linha podia chegar a dois anos.
“Volto quinta à noite”, dizia o telegrama do marido para a mulher que o aguardava ansiosa. Ele se encontrava a trabalho no interior de Minas; ela, na casa do casal, no Rio. Quinta à noite ela esperou horas a fio, mas o marido não voltou. “Será que houve algum problema com o carro perguntava a si mesma, já quase chegando às lágrimas? De tanto esperar acabou cochilando no sofá. Na manhã de sexta-feira, às nove horas, o marido chega sorridente. Espanta-se com o aspecto da mulher aflita. Conversa vai, conversa vem, e o equívoco foi esclarecido. O marido escreveu “volto quinta à noite”, querendo dizer que sairia de Minas na quinta à noite e não que chegaria quinta à noite.
Esse breve relato mostra como, muitas vezes, a comunicação é ineficiente apenas por causa de uma simples palavra. Assim é na vida privada, assim é na vida profissional. Por isso, a boa comunicação requer objetividade, clareza e bom manejo da língua.
Ser objetivo não significa ser simplório ou informar pela metade, mas usar as palavras certas para transmitir informação ou expressar uma ideia. Por isso, nunca é demais lembrar que, em geral, há uma palavra para definir uma situação.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Homenagem às mães


“Há homens que lutam um dia e são bons. Há outros que lutam um ano e são melhores. Há os que lutam muitos anos, e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida, esses são os imprescindíveis.” [Bertold Brecht]
Sugiro uma pequena mudança na frase de Bertold Brecht: que a palavra homens seja trocada por seres humanos.
Ficaria, então, assim:
Há seres humanos que lutam um dia e são bons. Há outros que lutam um ano e são melhores. Há os que lutam muitos anos, e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida, esses são imprescindíveis.
Dentre esses seres humanos há inúmeras mulheres, mães. A elas presto minha homenagem neste dia 09 de maio de 2010. Em especial à Justine (foto), hoje com 89 anos de idade, mulher batalhadora, minha querida mãe, imprescindível.