sábado, 22 de outubro de 2011

O esforço de uma professora para trazer de volta à escola alunos evadidos

No ano 2000, eu trabalhava na MultiRio, uma empresa de multimeios da Prefeitura do Rio de Janeiro, que produz programas educativos transmitidos, na época, pela TV Bandeirante e pelo Canal 03 da NET. Eu era editora jornalística, repórter e roteirista dos programas “Cidade e Educação” e “Orgulho Carioca”. Nos meus três anos de trabalho na empresa, percorri escolas públicas e nelas testemunhei o trabalho incansável de vários profissionais de educação: professores de educação física que fizeram da rua uma extensão da escola ao usá-la como pista de atletismo em horários fora da grade escolar ocupando, assim, o tempo das crianças com atividades que fazem bem ao corpo e à mente; professores de artes industriais que, junto com seus alunos, restauraram todo o mobiliário de sua escola, ensinando-os, não só um ofício, mas conscientizando-os para a importância da conservação; e professores de história que usaram as artes cênicas como um de seus instrumentos de ensino, fazendo com que seus alunos passassem a se interessar, com entusiasmo, pelo passado de seu país. Mas, uma professora, em especial, não me sai da cabeça. É Antonia Beriuca da Silva, que, na época, lecionava no Ciep Carlos Drumond de Andrade, uma das escolas em que foi implantado o programa “Aceleração de Aprendizagem”, cujo objetivo era levar, até a quinta série, alunos já alfabetizados, mas que tinham dois ou mais anos de defasagem. Aquela mulher, de aparência simples, ensinava pacientemente em sua sala de aula, sempre de portas abertas, porque não queria manter os alunos trancados, para que não se sentissem forçados a aprender. Restabelecer o fluxo escolar normal de jovens é um desafio e tanto. E, para a professora Antonia, o desafio era ainda maior, porque havia várias crianças que faltavam e se evadiam da escola. Algumas ela conseguiu trazer de volta, depois de tê-las procurado pelas ruas, em terrenos baldios, embaixo de pontes e viadutos. Eram jovens que foram rotulados durante muito tempo, taxados de incapazes, que desconheciam carinho. Quando os encontrava, a professora Antonia se aproximava e dizia:
“Venha..., eu posso lhe dar amor; talvez não o que você mereceria receber, mas eu posso lhe dar amor. Não estou trabalhando com você para transformá-lo em catedrático ou doutor. Quero trabalhar com você para que você seja alguém na vida que saiba vencer as dificuldades”.
A professora Antonia não conseguiu resgatar todos os evadidos. Mas, cada vez que um voltava à sala de aula, ela via seu esforço recompensado.