domingo, 27 de março de 2011

Tiziana Bonazzola, uma saudade


Tiziana nos deixou. Aos 90 anos de idade, seu corpo disse não à vida. Um anjo a levou e agora ela é mais uma estrela na constelação de seres humanos que foram imprescindíveis. Tiziana Bonazzola era artista plástica. Adorava pintar paisagens e flores. E o fazia com maestria e muita sensibilidade. Aos cinco anos de idade, seu tio Gulio Cisari, pintor e gravador que vivia em Milão, deu-lhe uma caixa de aquarelas e ela começou a pintar o que a encantava de observar: rosas, fura-neves e outras flores do jardim de sua casa em Varese, na Itália, onde nasceu. A natureza era uma de suas preocupações e foi registrada no catálogo de sua última exposição no Museu Nacional de Belas Artes, em maio de 2008, no Rio de Janeiro: “Gostaria que minhas obras fizessem lembrar aos jovens a importância de observar a natureza e vibrar com ela. Uma rosa desabrocha, se abre e depois cai com suas pétalas, mas nos doa sua beleza”, escreveu. Tal como as rosas, Tiziana era bela, por dentro e por fora. Generosa, acolhedora, tolerante, pacificadora, suave e afetuosa. Às vezes parecia frágil, mas era mulher de fibra. Em sua juventude enquanto estudava arte, veio a guerra e, com ela, a ocupação de seu país, a Itália. Movida pelo desejo à liberdade, como todos os seus compatriotas, Tiziana engajou-se na resistência levando, diariamente, em sua bicicleta, materiais que o seu irmão ativista e líder partegian, mandava para os seus companheiros. Na cerimônia de cremação do corpo de Tiziana, no Rio de Janeiro, foi lido um e-mail que um velho companheiro da resistência enviou à família (tão logo soube de seu falecimento) relembrando os feitos da então adolescente idealista. Tiziana se foi. Seu ideal por um mundo melhor permanece, assim como permanecem a sua obra e a imagem de mulher guerreira, esposa dedicada, mãe exemplar, avó “coruja” e amiga na tristeza e na alegria. Tiziana se foi. Fica a saudade e a lembrança de uma das pessoas mais sensíveis que já conheci. Ter convivido com Tiziana, por longos anos, é algo que carrego como um troféu.
Foto: Isis Braga